Intervenção inicial do presidente José Manuel Silva | Reunião de Câmara, 13 de maio

O presidente da Câmara Municipal (CM) de Coimbra aproveitou a sua intervenção inicial para divulgar um ofício da Infraestruturas de Portugal (IP) que afirma que não está prevista a reposição de tróleis na cidade por o anterior Executivo municipal (PS) não ter dado qualquer indicação nesse sentido. José Manuel Silva explicou que o ofício surge depois de o Município procurar explicações sobre o assunto junto da IP, tendo questionado a responsável pelas empreitadas do SMM sobre se haveria algum acordo para a reposição de uma rede de tróleis e se haveria disponibilidade para reabrir o processo para incluir uma linha. “O que os SMTUC e o anterior Executivo tinham a obrigação de ter feito era, em tempo de negociações, apresentar um circuito alternativo para, incluído no pacote financeiro do MetroBus, ser reposta uma linha de tróleis em compensação das catenárias retiradas. Por que não o fizeram?”, perguntou José Manuel Silva, dirigindo-se aos vereadores socialistas.

 

 

Intervenção na íntegra:

 

«Numa reunião do executivo da Câmara Municipal, realizada em Abril, a vereadora Regina Bento voltou ao tema dos tróleis e insultou-me, indelicadamente, acusando-me de ser o “coveiro dos tróleis” em Coimbra, adjetivação que foi repetida na Assembleia Municipal.

 

Já há cerca de um ano, em resposta ao mesmo tipo de insinuações, eu e a vereadora Ana Bastos publicámos num jornal local um texto esclarecedor que intitulámos de “A verdade sobre os tróleis”, em que recordámos que a linha de tração dos tróleis estava a ser retirada em múltiplos segmentos por causa das obras do MetroBus, um projeto e uma intervenção aprovados pelo anterior executivo socialista e pela vereadora Regina Bento. Por conseguinte, não podemos ser acusados daquilo de que manifestamente não somos responsáveis.

 

Contudo, em coerência e porque respeitamos a ética política, por nossa iniciativa nunca acusámos o anterior executivo PS de estar a destruir as linhas de tróleis em Coimbra, pois sabíamos que, para permitir as obras de instalação do MetroBus, não havia alternativa ao levantamento das linhas de tração nos locais de inultrapassável incompatibilidade.

 

Além disso, tal como afirmámos nesse texto, e a senhora vereadora recordou-o na sua intervenção, tínhamos a firme intenção de repor uma linha turística de tróleis. Eu próprio elaborei um esboço dessa linha, para ser estudada pelos serviços.

 

Estávamos então genuinamente convencidos que a contrapartida da reposição de uma linha de tração dos tróleis, compatível com o MetroBus, faria parte do acordo assinado entre o anterior executivo e a IP, visto que quem estraga, repõe, pelo que não teria custos nem para a Câmara nem para os SMTUC, pois é uma obra extremamente onerosa.

 

Para nossa completa estupefação, verificámos posteriormente que o anterior executivo socialista e o então CA dos SMTUC não tinham tido nem o cuidado, nem o interesse, nem a capacidade de acautelar a questão futura dos tróleis no projeto do Metro Mondego.

 

A surpresa é ainda maior porque, não obstante a responsabilidade ser exclusivamente do anterior executivo socialista, a vereadora Regina Bento e o PS repetem ciclicamente as mentirosas acusações contra o atual executivo e contra mim, afirmando que eu já não me livrava do epíteto de “coveiro dos tróleis” em Coimbra, quando a culpa não é nossa!

 

Senhora vereadora Regina Bento e senhores vereadores do PS, com provas documentais, vamos devolver-lhes o macabro rótulo, a si, ao anterior presidente da Câmara, a todos os vereadores que tiveram funções executivas no último mandato, a todos os membros do CA dos SMTUC no quadriénio 2017-2021 e ao Partido Socialista. A vereadora Regina Bento tem uma culpa duplamente acrescida, pois estava dos dois lados, Câmara e SMTUC, e, com a demissão do vereador Jorge Alves assumiu mesmo a liderança do CA dos SMTUC.

 

Porque estas questões são sensíveis e delicadas e, acima de tudo, preservamos a verdade, procurámos respostas por escrito da IP, fundamental e primeiramente para tentarmos corrigir o erro do passado, erro da Vereadora Regina Bento e do PS e, deste modo, salvar os tróleis em Coimbra, mas também para conhecermos a realidade, pois, apesar de tudo, nunca pensámos que a culpa do anterior executivo fosse tão profunda e tão evidente, como afinal é.

 

Assim, em 22/01/2024, enviámos um ofício à IP a questionar porque não tinha sido discutida e resolvida a questão da reposição das catenárias dos tróleis durante o processo negocial e se ainda era possível a IP assumir essa obra. Anexamos esse ofício ao presente texto como prova nº 1. A resposta da IP, que juntamos como prova nº 2, chegou às nossas mãos no princípio do mês de abril. Vou ler os eloquentes parágrafos finais deste ofício:

 

 

O conteúdo desta carta ilustra bem o desinteresse, o desleixo e a incompetência do anterior executivo camarário e do anterior CA dos SMTUC na condução deste processo, na verdade, infelizmente, a imagem de marca dos oito anos de governação socialista, queimando a possibilidade de, no curto e médio prazo, voltarmos a ter tróleis em Coimbra.

 

A vereadora Regina Bento e o PS nem sequer foram capazes de fazer o que eu próprio fiz, desenhar uma proposta de linha turística para os tróleis. O que os SMTUC e o anterior executivo tinham a obrigação de ter feito era, em tempo de negociações, apresentar um circuito alternativo para, incluído no pacote financeiro do MetroBus, ser reposta uma linha de tróleis em compensação das catenárias retiradas. Por que não o fizeram? Repito e insisto nesta pergunta: por que não o fizeram? E dirijo esta pergunta muito concreta aos vereadores socialistas aqui presentes, esperando que respondam tão lestamente como acusam.

 

Para além de, devido a esta falha grave, se ter perdido a oportunidade da reposição da linha de tração em simultâneo com as obras do MetroBus, evitando mais transtornos para as pessoas e sem custos adicionais para os cofres da Câmara. Essa futura reposição só será possível com financiamento externo, pois é demasiado onerosa para os SMTUC. Iremos trabalhar nisso, para, mais uma vez, corrigir os erros e as incompetências do passado.

 

Vereadora Regina Bento, eu não sei como qualificar uma pessoa que, sem um pingo de vergonha, sem memória e incapaz de assumir as suas próprias responsabilidades, pior do que tudo, sem respeito pelo exercício ético da política e sem respeito por Coimbra, é capaz de, tão grosseiramente, acusar os outros das culpas socialistas, que também são suas.

 

De alguém capaz deste tipo de comportamento vicioso, não vale a pena esperar um pedido de desculpas. Mas fica bem patente, perante todos e todas, que a vereadora Regina Bento, com culpas acrescidas, foi parte integrante da equipa de “coveiros” que, desleixada e incompetentemente, hipotecou o futuro próximo dos tróleis em Coimbra.

 

É este tipo de comportamento impróprio que está a minar a democracia portuguesa e a abrir espaço aos extremismos. O estudo “50 anos de Democracia em Portugal: Aspirações e Práticas Democráticas – Continuidades de Mudanças Geracionais (ISCSP/CAPP)”, que deve suscitar uma reflexão profunda e séria, revelou que se é verdade que a esmagadora maioria dos portugueses quer uma democracia, 70% considera um “governo de especialistas” e 47% apoiaria um “governo de um líder forte, que não tenha de se preocupar com eleições”.

 

Recomendo a leitura do livro “O descontentamento da Democracia”, de Michael Sandel, de que destaco esta frase: “a filosofia política parece frequentemente estar longe do mundo”. De facto, o que assistimos nesta Câmara é a uma oposição baseada não na defesa de uma ideologia política, mas em permanentes insinuações e acusações falsas e no simplismo do incessante apelo ao aumento da despesa, que conduziria ao total desequilíbrio das contas camarárias. Esta postura alimenta o ressentimento contra os políticos, que os populistas extremistas, como Donald Trump e outros, facilmente exploram. O subtítulo deste livro é elucidativo: “Por que razão vivemos tempos perigosos e o que temos de fazer para mudar”.

 

Os portugueses estão cansados de demagogia e de guerrilha política vazia de conteúdo e exigem respostas concretas para as suas dificuldades e para os problemas do país. Será que há pessoas que não conseguiram aprender nada com os resultados das últimas legislativas?

 

É em nome do exercício ético e da preservação da democracia, 50 anos depois do 25 de Abril, que, do PS, partido fundador da democracia portuguesa, que combateu os desmandos e as mentiras do fascismo, sim, do PS aguardo um pedido formal de desculpas pelos injustos e repetidos insultos da sua vereadora, que foram reverberados pelos deputados municipais socialistas.

 

A democracia exige um mínimo de respeito e ética política. As pessoas estão saturadas da politiquice destrutiva. Se o respeito, a ética e os valores falharem, como estão a falhar, é a democracia que fica em risco, como está a ficar em risco. Apelo ao PS para que deixe de ser um mero e básico partido populista, como outro qualquer, e para que possa voltar a ser o que já foi na altura da sua fundação, um partido de políticas e de causas.»

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